quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sete Anos

Ivone casou. Cometeu o primeiro grande erro de sua vida. Não o de casar, mas o de ir morar com a sogra.

Isso, todos sabem que é marcar data do divórcio. Mas o Abílio quis.

― Só até o apartamento ficar pronto, benzinho!

Ela não queria, e sabia aonde isso daria. Profetizava ao marido o destino que os aguardava.

Passaram-se três meses. Seis meses e nada. Nenhuma desavença. Uma briguinha sequer. Ivone estava decepcionada. Preparara o espírito para viver um inferno. Ao contrário, vivia um mar-de-rosas. A sogra só opinava quando solicitada. Aconselhava bem. Ajudava nas tarefas domésticas, e sempre a última palavra era da Ivone. Enquanto as amigas falavam mal das sogras, Ivone elogiava a sua. Puxava por um defeito ou mal-feito, mas nada, nada lhe vinha à memória. Ivone tinha a sogra perfeita.

Abílio há algum tempo notara a dedicação mútua. Tratavam-se, agora, minha sogrinha e minha norinha.

― Benzinho, vem deitar!

― Já vou, amor. É só o tempo de terminar a leitura pra minha sogrinha!

A cumplicidade entre as duas se fortalecia a cada dia. Abílio sentia-se esquecido. No canto. Triste. Foi definhando, definhando. Não deu outra. Caiu doente.

Cuidavam as duas do Abílio. Os mimos vinham em dobro. Sentia-se prestigiado. Aquela cama de hospital não parecia tão ruim. Tinha as duas mulheres de sua vida ali, a velar-lhe o sono, a fazer-lhe agrados. Porém, tão logo passasse a enfermidade, e uma vez curado, seria novamente indiferente. Cuidou de apressar a obra.
O apartamento ficou pronto. Pouco antes dos sete anos. Marcaram o dia da mudança. Ivone, porém, nada disse à sogra para não magoá-la. Falaria um dia antes.

Na véspera.

― Acode aqui, Abílio! - Aflita, Ivone segurava a sogra nos braços.

― O que houve?

― Acho que...

― Não! Vou chamar a ambulância...

― Não adianta mais...

A sogra da Ivone havia morrido. Sem deixar um ai de desapontamento. Não digo que Abílio desejara a morte da mãe, mas sentia-se estranhamente aliviado. Ivone, por sua vez, permanecia inconformada. Com certeza, sogra igual não veria jamais. Preferiria mil vezes uma sogra comum, que se acha em qualquer esquina, assim, talvez a trouxesse ainda viva, porque dizem: “vaso ruim não quebra”. A sogra da Ivone era definitivamente um vaso bom.

Com a separação, Ivone preferiu ficar. Abílio foi morar no apartamento. Não superaram a crise dos sete.

― Bem que a Ivone me avisou!

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